O excesso de oferta afeta a qualidade dos conselhos e compromete a geração de valor para a organização.
O mercado está inundado de conselheiros certificados. Oferecer cursos de desenvolvimento para conselheiros de administração ou transição da vida executiva para um conselho, tornou-se um grande e lucrativo negócio para muitas escolas de administração no país, mas nem todas possuem condições para sólida formação dos profissionais em governança corporativa, por mais que sigam as normas e fundamentos do IBGC. A pergunta é:
Quem está cuidando da qualidade desses milhares de conselheiros no mercado, procurando um novo “emprego”, disparando currículos como metralhadora e aceitando qualquer tipo de proposta? Isso é ético?
Vejo profissionais despreparados, mas com um excelente ‘marketing pessoal’, sem a vivência necessária para sentarem em uma posição de conselho. E mais, vejo conselheiros atuando em cinco, seis, sete conselhos ao mesmo tempo. Qual a qualidade de suas entregas e contribuições? Como se preparam para as reuniões?
Ser conselheiro é estar à disposição da empresa; é preciso se preparar para as agendas, estudar, buscar informações, acompanhar o mercado, circular entre a gestão (sem interferir no dia a dia do gestor). Já foi a época em que o conselheiro de administração participava de uma única reunião por mês, ganhava ótima remuneração por reunião, respondia uns dois ou três e-mails no mês e depois, só aparecia na reunião do mês seguinte.
Há hipocrisia, oportunismo, resultados questionáveis e pouco propósito, de fato. Se um conselheiro de administração disser que está em mais de três conselhos ao mesmo tempo, desconfie do real valor que ele entrega e agrega à governança corporativa e estratégia da empresa, afinal, conselho de administração (ou consultivo) é estratégia pura.
Governança Corporativa não é moda. Depois, quando a empresa toma uma direção estratégica errada, ou então, estouram casos como o da Americanas (não é o único; pode haver mais empresas no ‘pipeline’), a imprensa e o mercado ficam chocados e exclamam: “Como deixaram isso acontecer?”
Ser conselheiro não é fazer “um bico” para ajudar nas contas do mês. As escolas críveis de formação de profissionais de governança corporativa precisam se posicionar sobre isso e defender sua reputação e aqueles conselheiros que carregam a sua chancela na formação.
Orlando Merluzzi (*)
(*) Consultor, conselheiro independente e sócio-gestor da MA8 Management Consulting Group, é criador do Portal Pensamento Corporativo e da página do @pensamentocorporativo no Instagram.